Martyrs, Pascal Laugier


Eu que, desde pequena, me divertia com Pânico e vibrava quando pegava um Massacre da Serra Elétrica de madruga, fiquei com pesadelos desse filme.
Ar de Paris, Duchamp
Filme francês, ainda assim... de terror, eu já fico com o pé atrás. Afinal, eles tem dinheiro e proteção do estado para fazer cinema e sempre acaba saindo umas comédias sem sal à la Globo Produções. Claro que é tudo lindo com aquele ar parisiense, atores que não vemos todos os dias e toda aquela sensualidade de homens mara fazendo biquinho para falar. França deixou de ser grande centro de produção cinematográfica há muito tempo e, infelizmente, só sua origem não garante muita coisa.Martírio é o oposto de tudo isso. Martírio é pesado. Martírio é horror. Martírio é do Coisa-ruim.
Nunca imaginei que alguém iria colocar o pior MeninaMá.com, Jogos Mortais, O Chamado/REC, Suicide Club e O Albergue em um filme só, fazendo todo o sentido e com uma produção incrívél.
A influência dos filmes de horror asiáticos é clara. Sabe aquele toque dos contos do teatro Noh: mulher injuriada vira um fantasma em busca de vingança e coisas do tipo. Isso assombra de verdade! Eu vi o filme e fiquei completamente assombrada. Ainda bem que foi de tarde. As doses de tensão a là MeninaMá.com e gore são cavalares. Em grande parte do filme você vai ficar bem whattafuck, mas do meio para o final... é uuuuuuuuuh.
Ai se fosse isso que saísse
do poço, né colega?
Não vou contar a sinopse porque acabaria com as surpresas sangrentas. Em vez disso, irei exemplificar certos aspectos com uma história REAL.
Klara Mauerova parecia ser uma mãe normal até que seu vizinho, acidentalmente, capturou o sinal de TV dela pelo recém instalado circuito de segurança (ambos usavam o mesmo sistema de tv). Ele só queria vigiar a bábá, mas acabou presenciando acontecimentos tenebrosos.
Ondrej, de oito anos, e Jakub, de dez anos, foram queimados por cigarro, espancados com cinto, quase afogados, esfolados, abusados sexualmente, forçados a comer partes do próprio corpo e a esfaquear um ao outro. JURO, tá tudo aqui e aqui.
Klara assistia seus próprios filhos serem torturados por membros de uma seita da República Checa chamado Movimento do Graal. Entre eles, sua irmã, filha adotiva, o irmão dessa filha e um amigo da família.
A mãe só pegou nove anos de cadeia. Os acusados se negaram a dizer o motivo das torturas.
Isso que me assusta em filmes assim. Uma coisa é o sujeito ser serial killer porque dá aquela impressão de fato praticamente isolado, um erro da sociedade. Outra coisa é um bando de gente se juntar para torturar o outro. É uma alucinação coletiva cruel! Não é um psicopata, são vários e unidos.
PIOR, isso pode estar acontecendo agora e muito perto de você. MEDA!
H-tinha, véi.



Ópium: Egy elmebeteg nö naplója, János Szász

János Szász nasceu na Hungria e se formou diretor de teatro pela Academy of Theater and Film Arts em Budapeste. Atualmente trabalha nos EUA no American Repertory Theater e dirigiu espetáculos como o Alice VS Wonderland e Mãe Coragem e seus filhos.
Seu currículo faz jus às críticas sobre a interpretação dos atores - Kirsti Stubø ganhou a premiação de melhor atriz no Festival Internacional de Moscovo e no Fantasporto, em Portugal. O filme também chama atenção por sua fidelidade no figurino e indumentária utilizada nos centros clínicos.

A trama se passa no início do séc XX, onde a psicanálise freudiana ainda não era unânime no tratamento de problemas mentais. Josef Brenner vai trabalhar como médico psiquiatra numa clínica que ainda é utilizado métodos tradicionais como imersão em água fria, lobotomia e os bons e velhos choquinhos para fazer o neurônio funcionar corretamente. A agressividade desses métodos é tão grande que desejamos imensamente que Brenner tenha sucesso com seus pacientes. Só que o fato dele ser um escritor de histórias eróticas frustrado e um viciado em morfina e ópio acaba atrapalhando um pouco.
Para piorar, Gizella, uma de suas pacientes VIRGEM, escreve compulsivamente sobre como o Coisa-ruim abusa sexualmente dela.

A relação dos dois foi muito romantizada e Brenner, que tinha tudo para ser um personagem extremamente complexo, acaba sendo muito linear em suas reações e cai em alguns clichês de médico bonitão e enigmático. Ele é muito indiferente sobre seu vício e não passa credibilidade como analista. Gizella arrasta toda a trama com seus altos e baixos e não deixa o filme ficar totalmente desinteressante. Imagino que alguém menos acostumado a filmes realmente dramáticos, viscerais, perturbadores fique satisfeito, mas sempre que Brenner comia uma enfermeira ou rolava uma briguinha eu ficava mó blé, grandes coisa. O final tenta salvar alguma coisa, mas depois de tanto nhé nhé nhé, não foi suficiente.

Se na narrativa, o filme morre na praia, o resto consegue compensar. Os detalhes do cenário e do figurino nos enchem os olhos e a música é primorosa. Não assistam querendo um bom filme, porque esse é SÓ mais um bom. Uma pena...
Só é obrigatório para quem já jogou Americans McGee's Alice porque esse climinha de hospital psiquiátrico vai dar uma saudaaaaaaade!

OBS.: O filme é de 2007, mas o vi na seção de lançamentos da minha locadora cativa. Em outros casos, é fácil achar por torrent.



Garotas de Tóquio, Frédéric Boilet.

Aproveitei uma promoção no Submarino (que eu não recomendo comprar nada que você não consiga superar se vier estragado ou USADO, mas isso é conversa para um próximo post) e comprei algumas histórias em quadrinhos que desejava a algum tempo.
Entre eles, comprei o Garotas de Tóquio, HQ que já havia namorado a mais de três anos atrás na Kingdom Comics. Imagino que de lá para cá alguma coisa mudou, porque eu realmente não gostei da HQ. Acho que ao ler tantas críticas, fiquei esperando demais, sabe?
Eu adorei o clima da história. Acho que japonesas, seja pela paixão pela cultura ou o exótico, já chamam muita atenção. O fato do Fréféric ser um francês eradicado no Japão me fascina como algo que gostara para mim. O choque das culturas é algo tão rico, algo que pode despertar tantas coisas, que não tem como não exercer a antropofagia.
Esse aspecto é nítido e muito lindo da HQ, mas o desenho... ah, cara, não dá. Essa coisa de desenho sob fotografia perde muita organicidade dos quadros e por se tratar de algo delicado, acho indispensável. A mesma técnica para uma HQ sobre guerra ou algo mais realista é compatível, não para sexo, sorry.
Irei argumentar um pouco mais sobre isso:

Primeiro há o fator fetiche e o fator lúdico que não foram abordados da forma que EU acho mais coerente. O fetiche sob o tema é impecável, mas, espero que vocês concordem, ler um quadrinho que eu conseguiria desenhar em, no máximo, uns dois dias não é algo que me agrade visualmente. Ah, mas o desenho age como uma camada que trás o anonimato para algo que aconteceu, ou não. Essa dúvida sobre o que foi feito e o que foi inventando trás o fetiche e blablabla. Mas não foi feito de modo lúdico, pô! Não rolou o devaneio, não consegui me colocar no lugar do fracês taradinho, porque eu tinha certeza que aquilo tudo era verdade. Então, para que desenhar, literalmente, sobre isso?
Gansos brancos e pintas escondidas
Não é uma questão de usar referência ou não. Em Gansos brancos e pintas escondidas fiquei completamente satisfeita com o equilíbrio entre temática-poética-técnica. Sabemos que algo realmente ocorreu, mas a própria indagação da japinha quanto seu anonimato já nos trás dúvidas. O autor assume isso e entramos na brincadeira. As cenas imagéticas e as baseadas em fotografia são claramente reconhecíveis, mas são bem homogêneas. Nas outras histórias, a fotografia prevalece e perde todo o clima lúdico.

Em suma, amei profundamente as histórias. São tão sinceras e humanas que ao ver o desenho não explorado como deveria, fiquei muito triste. A minha impressão é de que o autor só deu dedicação a 50% e os outros foram feitos na coxa. Irei, eu mesma, romantizar as MINHAS japinhas! Pronto, falei. Beijos.